BLOG

Quer um conselho? Não! Quero um feedback – Fatores que dificultaram e facilitaram o processo de feedback no grupo SBDG

Marcelo Bartholomeu

 Patrícia Edwiges Mussato

Ferreira Wilson José Rosa

 

Revista 8 – Artigo 1

Introdução

Comunicação e feedback existem para o ser humano desde os seus primeiros dias. A esse respeito, Mailhiot (1976, p 70) afirma que a comunicação somente ocorre quando um contato psicológico é estabelecido entre duas ou mais pessoas. Não basta que as pessoas com intenção de comunicação se falem, se escutem ou mesmo se compreendam, visto que a comunicação humana entre elas existirá quando e todo o tempo em que conseguirem se reencontrar.

Sobre essa questão, Melaine Klein chama a atenção para a relação mãe e bebê, afirmando que a mesma acontece de forma ambígua, onde o bebê ama e odeia ao mesmo tempo o objeto desejado – nesse caso, a mãe.

A ambivalência destes sentimentos, entretanto, não pertence apenas à infância. Amor e ódio acompanham o indivíduo por toda sua vida.

Durante sua existência, o indivíduo enquanto ser gregário dependerá do convívio social, do trânsito por diversos grupos; donde se pressupõe que tais grupos sejam eles familiares, acadêmicos, profissionais ou quaisquer outros, suprirão ou não seus desejos e necessidades mais profundos.

No grupo em análise, amor e ódio estiveram presentes ao longo de todo o processo de formação; sendo que, na busca por comunicação e feedback assertivos, as diferentes formações acadêmicas de seus membros lhes foram de nenhuma ou pouca valia.

As relações de amor e ódio e de luta e fuga somente foram minimizadas pelos processos vivenciados durante os encontros, que permitiram ganhos de autoconhecimento, autoconfiança e, acima de tudo, de coragem para mexer nas “caixas pretas”.

Somente através de diversos estímulos e feedbacks é que o grupo teve a possibilidade de entrar em contato com seus sentimentos mais primitivos, tais como: a agressividade, o ciúme e a inveja; sentimentos esses negados por vários encontros, e que lá estiveram o tempo todo.

Assumir a existência de sentimentos primitivos proporcionou ao grupo a possibilidade de entender que a questão não estava em ter tais sentimentos, mas sim na maneira pela qual cada um lidava com os mesmos.

Tais aspectos despertaram nos autores deste artigo o interesse por averiguar o que de fato aconteceu nesse grupo; em particular os fatores que facilitaram e dificultaram o processo de dar e receber feedback.

Para tanto, os autores optaram por realizar um estudo de caso e aplicação de uma pesquisa (em anexo) quantitativa e qualitativa, com perguntas abertas e de caráter exploratório. O questionário foi realizado através de pesquisa online, enviado aos 15 integrantes do grupo de Pós Graduação em Dinâmica dos Grupos, de Campinas, São Paulo. O grupo era composto por 18 participantes (sendo 3 deles os autores deste artigo), com formações acadêmicas distintas.

Como referencial teórico foram utilizadas as obras de Melaine Klein (sobre a relação mãe e bebê, e o despertar da inveja e gratidão), de Sigmund Freud (sobre os mecanismos de defesa, em especial os de introjeção e projeção – sendo esses os primeiros mecanismos de defesas adotados pelo bebê), de Joan Rivièri (a respeito da agressividade e ciúmes – sentimentos inatos a qualquer ser humano) e, por fim, Wilfred R. Bion (referente aos pressupostos básicos; donde se destaca a dependência como a necessidade de uma figura de autoridade em que se possa confiar; a luta e fuga enquanto comportamentos manifestados com a intenção de afastar ou enfrentar situações reais ou imaginárias e, por fim, o acasalamento como um comportamento que busca manter a esperança no grupo a fim de salvá-lo das dificuldades).

 

Feedback: onde tudo começa

Um assunto que se torna frequentemente tema de infindáveis discussões é feedback. Artigos, livros, matérias sobre esse tema são praticamente ilimitados. Tais obras, em sua maioria, são destinadas ao mundo corporativo, ou seja, às organizações; onde podem ser encontradas dicas de como dar o feedback. Mas será que tais dicas são válidas para todos os contextos? Entendemos que não e vamos explicar o motivo.

Brazelton e Gramer (1992, p. 32) observam que muitas mães relatam que os movimentos fetais são afetados por vários tipos de estímulos – como, por exemplo, o toque e a pressão no abdômen durante o exame de ultrassom.

Após o nascimento, os familiares (e principalmente os pais) oferecem estímulos contínuos ao bebê, seja numa fala, brincadeira, num toque, etc. Com a resposta do bebê aos estímulos dá-se início ao processo de troca, de sucessivos contatos e, consequentemente, das relações com os mais diversos agrupamentos humanos.

De forma consciente e inconsciente, a relação mãe e filho é estabelecida de forma recíproca através do afeto e desafeto. Essa troca inicial é fundamental para o estabelecimento de vínculos, não só na relação dual observada na tenra infância, mas também nas demais que se estenderão por toda a vida do indivíduo.

 Indo além, Melaine Klein, pioneira nos estudos da mente humana em bebês, diz que a relação mãe e bebê acontece de forma ambígua, onde o bebê ama e odeia ao mesmo tempo o objeto desejado – nesse caso, a mãe (1991, p. 347). Klein define essa relação como seio bom e seio mau. O seio bom é aquele que nutre, alimenta e satisfaz os desejos do bebê. Por sua vez, o seio mau é aquele que provoca a raiva, o ódio e a frustração por não permitir que o bebê tenha seus desejos satisfeitos de forma imediata. Esse processo acontece nos primeiros meses de vida, pois, inicialmente o bebê não consegue se ver separado de sua mãe; para ele há somente um corpo, um ser. É através do seio mau que o bebê começa a perceber que ele não está integrado a sua mãe, que é um ser separado e dependente.

A balança do relacionamento surge ao saber que a mãe não satisfaz suas vontades de forma imediata, nascendo assim o ódio do objeto desejado (mãe). A contraposição nessa balança é o amor e dessa dicotomia surgem os sentimentos mais primitivos, como o caso da inveja – onde a intenção é solapar o objeto ameaçador.

Fadiman e Frager (1986, pp. 24 e 25) ressaltam que as interações e relacionamentos dos adultos são fortemente influenciados por essas primeiras experiências infantis. Os modelos que adquirimos de criança-mãe, criança-pai e criança-irmãos são referenciais para nossos relacionamentos posteriores e, em certa medida, são recapitulações da dinâmica das tensões e das gratificações vivenciadas na nossa base familiar.

 Na esteira das observações de Fadiman e Frager, o nascimento de um grupo pode ser comparado ao tão esperado bebê: o grupo nascerá, crescerá e entenderá o seu funcionamento e o de seus pares – momento em que esses poderão ou não perceber os papéis que adotaram até então em suas vidas.

De igual maneira nasceu o grupo de Formação em Dinâmica dos Grupos, de Campinas, São Paulo, por iniciativa da SBDG – Sociedade Brasileira de Dinâmica dos Grupos; constituído por membros de áreas diversas de formação, tais como: administração de empresa, contabilidade, direito, economia, enfermagem, engenharia civil, engenharia mecânica, letras, pedagogia, psicologia e tecnologia em gestão de recursos humanos. O grupo era composto por 18 membros; sendo 4 homens e 14 mulheres, cuja faixa etária variava de 30 anos a 52 anos (de se considerar que 3 membros são os autores desse artigo).

Esse grupo conviveu por dois anos, com encontros mensais que ocorriam nas sextas-feiras e sábados, previamente agendados.

As relações interpessoais e intragrupais estabelecidas no grupo despertaram nos autores desse artigo o interesse em entender quais os fatores que facilitaram e dificultaram o feedback.

Justifica-se a importância dessa pesquisa pelo fato de que relação interpessoal não se resume ao simples “falar”, uma vez que também é constituída pelo que é observado e percebido na outra pessoa; seja o tom de voz, a maneira de se vestir ou os gestos. Esse processo acontece naturalmente, não há como controlá-lo. O indivíduo já nasce programado para procurar sinais faciais e comportamentais a fim de compreender seu significado e, amplia sua capacidade de percepção na medida em que se desenvolve.

Nas relações interpessoais há ainda as dificuldades decorrentes de ameaças reais ou imaginárias, de questões de poder e influência.

Focando a questão no grupo estudado, em uma das vivências seus membros tiveram que indicar quem “participava” e quem “influenciava”. Nesse exercício foi possível perceber a competição existente entre seus membros, que até então permanecia velada.

A racionalização também esteve fortemente presente no grupo, através de falas como: “não estamos aqui competindo” ou “estamos no mesmo nível de aprendizagem”.

 Supomos que a competição se iniciou logo no primeiro dia de encontro; fosse pela disputa por atenção, ciúmes e até mesmo inveja entre os membros do grupo e entre os membros e as coordenadoras. Afinal, elas representavam a “mãe” que supriria todas as necessidades dos “filhos”, inclusive, as ameaças e o medo de ser rejeitado ou excluído.

Quando há competição, há exclusão; momento em que se estabelece o comportamento de luta e fuga. Sobre esse aspecto, Bléandonu (1993, p. 79) diz que Bion o destaca como mais um de seus pressupostos básicos; o grupo adota o comportamento de luta e fuga, pois tem a convicção de que existe um inimigo externo e, sendo assim, é necessário atacá-lo ou dele fugir. Inconscientemente, o grupo acredita que a solução para seus problemas se dará na medida em que conseguirem evitar o perigo proveniente de um objeto persecutório, podendo ser interno ou externo ao grupo, o qual deverá enfrentar, fugindo ou atacando – no caso estudado, liderados pelas coordenadoras do grupo.

A resposta do entrevistado “F” ilustra o comportamento de medo no grupo: “Em alguns momentos, muitos participantes se abstinham de falar ou posicionar-se diante do que estava acontecendo no grupo.”

O ser humano possui dificuldade em expressar suas emoções e percepções reais em virtude do medo de entrar em contato com lembranças e sentimentos que tragam sofrimentos, do medo do julgamento, do enfrentamento ou por conta de velhos hábitos de encobrimento que, na maioria das vezes são difíceis de superar. Existe a possibilidade de que o indivíduo tenha dificuldade em compreender o que os outros esperam dele ou, ainda, a falta do desejo de investimento em si e no outro.

A essa altura é importante refletirmos sobre a importância do feedback. Através dele é possível trabalhar o comportamento não percebido, ou até mesmo guardado em segredo; proporcionando ao indivíduo a possibilidade de trazer as suas ações, seus pensamentos e suas atitudes ao nível da consciência, bem como o impacto de seus comportamentos em suas relações.

Tais aspectos foram considerados no grupo estudado. Para que a pesquisa fosse levada a cabo, fez-se necessário o cumprimento das diretrizes da SBDG, especificamente no que se refere ao consentimento de pesquisa. O grupo foi previamente consultado quando reunido, in loco. Também foi enviada ao grupo, por meio eletrônico, solicitação de autorização para a pesquisa. Em ambas as situações, a resposta do grupo foi imediata, unânime e positiva; com o envio imediato do link para acesso da pesquisa.

Esgotado o prazo para acesso e respostas, 40% do grupo, ou seja, apenas 6 membros a haviam respondido.

Em função do reduzido número de respostas, dúvidas logo surgiram quando da análise inicial do resultado da pesquisa: teria havido algum problema de ordem eletrônica, seria sabotagem do grupo ou apenas a repetição de comportamentos observados ao longo dos encontros ?

 Para dirimir essa dúvida, no encontro seguinte o grupo foi questionado sobre o recebimento do link de pesquisa e esclarecido sobre a importância de sua participação; importância essa também reforçada pelas coordenadoras. Novamente, todos os presentes comprometeram-se a responder no mesmo dia, ou no dia seguinte.

No entanto, mesmo após esse “feedback coletivo e positivo” – ainda que verbal, apenas mais 2 membros cumpriram com o prometido, totalizando 8 participantes, o que representou 53% de participação no grupo.

A pesquisa encaminhada ao grupo era composta pelo conceito de feedback, os fatores que facilitaram e dificultaram seu processo e o momento em que o indivíduo teve consciência da ocorrência desses fatores.

Como linha de corte, decidiu-se por analisar os fatores que mais se destacaram; tanto os que dificultaram, quanto os que facilitaram. As “não respostas” também foram consideradas para análise.

A primeira pergunta da pesquisa tinha a intenção de averiguar o entendimento do conceito de feedback e confrontar suas respostas com a definição dos seguintes autores:

Moreira (2009, p. 6): “processo de fornecer dados para que o outro (pessoa ou grupo) possa melhorar seu desempenho para alcançar objetivos”.

Moscovici (2012, p. 94): “feedback é um processo de ajuda para mudanças de comportamento; é comunicação a uma pessoa, ou grupo, no sentido de fornecer-lhe informações sobre como sua atuação está afetando outras pessoas”.

Algumas respostas se aproximaram das definições apontadas acima.

Para o entrevistado “B” feedback é:

 “Quando está focado no desenvolvimento da pessoa, envolvendo cuidado na escolha da informação e influenciando na mudança do comportamento e melhoramento do outro e de mim.”

E para o entrevistado “G” feedback é: “É dar informação/retorno para que o outro tome consciência e possa mudar um comportamento.” Apesar da ideia deste conceito ter sido exaustivamente trabalhada ao longo dos encontros, o resultado da pesquisa permitiu concluir que seu entendimento não foi assimilado por todos, como por exemplo: O entrevistado “E” acredita que feedback é: “Ouvir uma opinião do outro a respeito de algum comportamento/ação minha.”

O processo de dar e receber feedback não consiste em uma simples troca de opinião. Moreira (2009, p. 6) afirma que: “o feedback não é opinião, como por exemplo: “não gostei”, “não é assim” ou outra qualquer. Essa fala é vaga, não pode ser considerada feedback”.

Feedback deve ser pautado em fatos, com atenção máxima aos detalhes e com foco no que é importante a ser comunicado, com objetividade. A abordagem pessoal é bem-vinda quando ocorre sem conselhos ou julgamentos. Nesse caso, apenas expõe-se os sentimentos em relação ao fato específico e o porquê, a causa de sentir-se da forma descrita; sendo adequado estar aberto a também ouvir o que o outro poderá dizer a respeito.

Nesse momento da pesquisa levantou-se a hipótese de que a maioria das obras que abordam o tema do feedback traz como contexto o ambiente corporativo; enquanto que, ao longo dos encontros do grupo estudado, o ambiente proporcionado foi o de laboratório, onde todos, num ambiente considerado seguro, foram estimulados a perceberem e a expressarem seus sentimentos e a adquirirem a consciência do impacto de seus comportamentos em si e no outro, assim como reelaborá-los – característica essa que justificaria eventuais distorções nos conceitos de feedback fornecidos nas respostas da pesquisa.

Relatamos acima que os membros do grupo foram consultados ao menos em três oportunidades sobre a possibilidade de sua participação na pesquisa que deu origem ao presente trabalho.

Tal fato tornou-se para os autores desta pesquisa relevante quando, na terceira e última oportunidade, com o apoio das coordenadoras, foi ressaltada ao grupo a importância de sua participação; momento no qual todos os membros foram unânimes em concordar em participar e enviar suas respostas – no máximo no dia seguinte (com exceção de dois que estavam ausentes).

Apesar dessa “unanimidade”, houve surpresa com o resultado obtido: das seis participações até então registradas, apenas mais dois membros participaram da pesquisa. Em outras palavras, sete membros deixaram de participar.

Enfim, o que teria acontecido? Teria ocorrido alguma incongruência nas respostas do grupo?

Entendeu-se que sim. A mensagem fornecida pelos autores foi a mesma reforçada pelas coordenadoras e praticamente confirmada por todos os membros.

Nesse ponto, levantou-se a hipótese de que o grupo não teria satisfeito as necessidades de seus membros ou mesmo se os autores teriam apenas representado o “seio mau” e arcado com as consequências desse papel.

É válido destacar aqui que o subgrupo dos autores foi o primeiro a apresentar o projeto de pesquisa; sendo elogiado pelas coordenadoras. Nesse momento, muitos membros apresentaram comportamento de ciúmes e inveja através de falas como: “Como gostaria de estar no subgrupo de vocês”, “Nossa! Estão adiantados” ou “Já que vocês estão adiantados, ajudem a gente aqui”. O ciúmes pairou no ar e, sendo assim, há de se considerar que a situação de ciúmes é naturalmente a de rivalidade no amor, disputa pela atenção das coordenadoras.

Uma outra hipótese é que as “não respostas” seriam uma forma de danificar o objeto invejado e também alvo das projeções em relação ao temor do TCC, pois seria através dos subgrupos de TCC que viriam à tona os sentimentos mais primitivos velados pelo grupo durante o processo de formação.

Tallaferro, (1996, p. 70) diz que as experiências de frustração e gratificação estão associadas a dois processos básicos característicos do ego e que automaticamente contribuem para a formação e estruturação do indivíduo. Esses processos são o de introjeção e projeção, que por sua vez contribuem para a ambivalência no relacionamento objetal. Desse modo, o bebê projeta os sentimentos bons que sente no seio bom e, consequentemente, os sentimentos maus no seio mau.

A esse respeito, Bion (Hinshelwood, 1992, pp.193-200) diz que a introjeção projetiva pode ser feita de duas maneiras, sendo uma de forma violenta, com a intenção de destruir e controlar o objeto ameaçador, e a outra de forma a comunicarse com o objeto ameaçador a fim de estabelecer uma relação saudável e empática, tendo como finalidade desempenhar seu papel na realidade social.

Considerou-se ainda a hipótese das resistências. De acordo com Zimerman, (1993, p.101) “a resistência provém sempre do ego, podendo ser consciente ou inconsciente. Ela pode expressar-se por meio de emoções, atitudes ou impulsos, ideias, linguagens, somatizações ou ações.”

Visto que através da pesquisa seria possível identificar os fatores que dificultaram e facilitaram o feedback, seria a resistência um desses fatores ? Tendo como intenção não entrar em contato com o que de fato dificultou o processo de feedback ?

 Levantou-se a hipótese de que as “não respostas” seriam uma forma de resistência que impediriam o esclarecimento dos sentimentos arcaicos manifestados no grupo; que não responder ao questionário seria uma forma de negar a ocorrência desses sentimentos não assumidos ao longo da formação, de permitir que permanecessem velados, como se nunca tivessem existido ou até mesmo feito parte de todo o processo.

O resultado da pesquisa mostra que tivemos 100% de confirmação em participar, porém com um resultado real de apenas 53% dos participantes. Ao longo dos encontros do grupo, em inúmeras oportunidades, houve questionamentos sobre suas paralisias, sobre a falta de posicionamento e alertas sobre o quanto isso empobrecia o grupo e as relações.

As “não respostas” demonstraram que nem sempre um feedback tido como positivo ou a “concordância coletiva” de fato são confiáveis, ou representam garantia de bons resultados.

Há de se destacar ainda outro sentimento primitivo, a inveja; inerente a qualquer ser humano e que muitas vezes é negado, camuflado ou censurado por ser considerado inapropriado ou vil.

A inveja também permeou as discussões do grupo e a resposta do entrevistado “D” ilustra esse sentimento no contexto grupal: “A pessoa desprezava o que estava sendo dito”.

Klein (1991) traz que o primeiro objeto a ser invejado pelo bebê é o seio que o alimenta, pois ele sente que o seio tem tudo o que ele deseja: é como uma fonte de amor e gratificação guardados só para ele.

Esse sentimento também é permeado pelo ódio. A autora destaca que a defesa que ocorre frequentemente contra a inveja é a desvalorização do objeto; onde o objeto desvalorizado não precisa ser mais invejado.

Pode-se dizer que a pessoa invejosa é insaciável e que nunca pode ser satisfeita, já que não é grata pelo que possui. Seu foco está sempre no que o outro tem e o sentimento de que pode ter algo que ela não tem, aflora a sua voracidade. Sua inveja brota de dentro e, portanto, sempre encontra um objeto sobre o qual se focalizar.

A voracidade é uma ânsia impetuosa e insaciável que excede aquilo que o sujeito necessita e o que o objeto é capaz e está disposto a dar. Em nível inconsciente, a voracidade visa escavar completamente, sugar até deixar seco e devorar o seio; ou seja, seu objetivo é a introjeção destrutiva, ao passo que, a inveja procura não apenas despojar dessa maneira, mas também depositar maldade; primordialmente excrementos maus e partes más do self, dentro da mãe, acima de tudo dentro do seu seio, a fim de estragá-la e destruí-la.

Uma diferença essencial entre voracidade e inveja, embora nenhuma linha divisória rígida possa ser traçada, visto estarem tão estreitamente associadas, é que a voracidade está ligada principalmente à introjeção e a inveja à projeção.

De acordo com Rivièri (1975, p. 25), a projeção é a primeira reação do bebê ao sofrimento. Esse mecanismo acontece como medida de segurança contra o sentimento de ser atacado. É através dele que o indivíduo projeta nos outros os sentimentos não aceitos em si próprio.

Inúmeras são as formas de se lidar com as ameaças, sejam elas reais ou imaginárias e, em se tratando de mecanismos de defesa, a projeção permite que o indivíduo desloque aspectos de sua personalidade para o meio externo. Isso faz com que ele trate a ameaça como sendo algo de fora dele.

A resposta do entrevistado “A”, referente à pesquisa, pode ilustrar esse sentimento:

“Ameaças para evitar rompimentos entre integrantes do grupo resultantes de feedbacks”

O sentido da projeção é o de reassegurar o eu (self) contra os perigos que ameaçam o indivíduo. Nesse caso fica mais fácil de aceitar e concentrar nos outros a ameaça que o amedronta, em descarregar seus impulsos agressivos sob forma de ataque ao perigo que está localizado externamente.

No grupo estudado tais sentimentos vinham à tona através de feedbacks a queima roupa. A projeção pode ser vista na resposta do entrevistado “G”: “Me sentia julgada pelo grupo e ainda não sentia confiança o suficiente para me arriscar nesse grupo.”

Rivièri (1975, p. 17) diz que agressividade faz parte da vida de todos os seres humanos e que ela se faz presente desde o início; ou seja, a agressividade é inata ao homem e em várias espécies tende a ser um sentimento de defesa. É evidente que ela não surge do nada; sempre haverá algo interno ou externo que desencadeará esse sentimento. A autora ressalta que tais impulsos agressivos estão sempre ligados a prazer e gratificação.

Em se tratando do grupo estudado, seus participantes relataram em várias situações a “agressividade” do grupo e o quanto isso os incomodava e até mesmo o quanto era o causador do medo em participar das discussões momentâneas.

Essa fala normalmente acontecia por membros que pouco demonstravam seus sentimentos em relação às vivências proporcionadas.

Por vezes, estes se manifestavam quando já não aguentavam mais a situação dessa suposta agressividade e decidiam por expressar o que estavam sentindo. Na maioria das vezes, quando eram desafiados pelos demais membros do grupo, sentindo-se pressionados, por vezes o faziam com choro, voz embargada e várias angústias.

Levantou-se a hipótese de que a intensidade dessas emoções poderia ser causada por medo da iminência de entrar em contato com a intensidade de sua própria agressividade, de perder o controle.

Em várias vivências, alguns integrantes mostraram sua agressividade através de falas em tom alto e até mesmo gestos mais bruscos, dirigindo-se ao grupo por seu funcionamento e utilizando-se da teorização como fuga de assuntos temidos e, assim, evitando entrar em contato com o que estava sendo discutido na ocasião. Em outros momentos, no embate, a agressividade era dirigida a algum membro específico, como forma de estimular o confronto, a discussão.

Vale também ressaltar que a agressividade tinha como função garantir a “existência” de tais participantes; porém, esse sentimento foi encoberto ou pelo menos tentou-se encobri-lo. Rivièri (1975, p. 18) ressalta que mesmo tendo consciência de que esse sentimento é também da natureza humana, não nos agrada saber que o temos, pois temos “medo” dele e preferimos não focar o olhar sobre ele.

Em várias situações a agressividade emergiu no grupo e logo após foi “abafada” ou até mesmo camuflada, pelo que podemos levantar a hipótese de que, mesmo sendo um sentimento primitivo e inerente ao ser humano, seus participantes tiveram dificuldades de entrar em contato com a sua própria agressividade e, consequentemente, tiveram medo da reação que poderia ocasionar no grupo ou em alguns membros.

Outra hipótese é que os indivíduos normalmente não estão preparados para receber feedback, porque se sentem expostos e isso mexe com o status quo. A resposta do entrevistado “H” demonstra esse sentimento:

“Principalmente no início, quando ainda estávamos experimentando esses movimentos, e algumas pessoas foram usadas/se fizeram de bodes expiatórios e o feedback ainda tinha muito julgamento e às vezes era massacrante.”

Destaca-se que, em se tratando de relacionar os fatores que impediram o dar e receber feedback, apenas um membro do grupo mencionou a agressividade como fator impeditivo para a realização assertiva desse processo.

Rivièri (1975, p. 18) afirma que “a agressividade, sob certos aspectos, desempenha papel preponderante na luta pela existência”.

Em muitos momentos, a agressividade foi negada no grupo de forma consciente e inconsciente. Bastava, porém, apenas um “estopim” para que ela surgisse e proporcionasse sua aceitação e enfrentamento, momento em que o grupo entrava em contato com o seu mais íntimo.

Outro ponto muito discutido, o qual porém não aparece na pesquisa, foi a questão da expectativa. “Qual expectativa”? era uma pergunta comumente nunca respondida de forma clara, sempre camuflada.

Entende-se aqui que tal expectativa pode estar associada ao desejo de cada um, sendo este consciente ou não, e é exatamente nesse ponto não muito claro que a agressividade, encoberta e até negada, se faz presente; pois de acordo com Rivièri (1975, p. 19), quando um desejo insatisfeito for muito intenso, ele pode provocar a sensação de perda e sofrimento e, consequentemente, isso desperta a agressividade.

Muito se falou do controle que o grupo tentou várias vezes impor durante as discussões e nos sentimentos expressos; principalmente nos de agressividade, através de falas como: “Não gosto desse ambiente agressivo”, “Isso me incomoda”, “Não consigo participar desta maneira”; formas sutis de controlar e tentar evitar que sentimentos incômodos viessem à tona.

Mas qual seria a intenção de não entrar em contato com tais sentimentos?

Rivièri (1975, p. 20) diz que “a dependência é sentida como perigosa porque envolve a possibilidade de privação”. Isso é remetido ao período que o bebê começa a perceber que ele não faz parte da mãe e sim que é um ser dependente dela. Esse reconhecimento proporciona a primeira experiência de não-existência de algo e de uma perda essencial.

Isso nos diz que os sentimentos de ódio, agressividade, inveja, ciúmes e voracidade, vividos e manifestados na vida adulta, têm origem nessa experiência mãe-bebê, havendo a necessidade de superá-la para que se possa sobreviver e até mesmo encontrar algum prazer. Por mais que a agressividade e sentimentos hostis estejam presentes, eles são essenciais para modificações e ajustes inconscientes.

Por fim, o não enfrentamento ou aceitação desse sentimento no grupo pode estar ligado à não aceitação individual da agressividade. Em alguns momentos uns gostariam que no grupo houvesse “amor” ou “ódio”, o que é inconcebível; pois somos seres de sentimentos e, nesse caso, não escolhemos um “ou” outro.

O medo também foi apontado por 5 membros do grupo, o que equivale a 63% dos pesquisados, como um fator que dificultou o processo de feedback.

De acordo com o dicionário online Priberam da Língua Portuguesa, o medo é definido como um estado emocional resultante da consciência de perigo ou de ameaça, real, hipotética ou imaginária. É tido também como ausência de coragem ou, ainda, como uma preocupação com determinado fato ou com determinada possibilidade.

Focando nesse sentimento foram consultados alguns autores que pudessem ajudar na compreensão de algumas atitudes do grupo.

De acordo com Zimerman (1993, p. 102), as manifestações resistenciais mais comuns são: atrasos, tentativas de alteração das combinações do setting, silêncios excessivos, ênfase de relatos da realidade exterior, manutenção de segredos, excessiva intelectualização, não abordagem de assuntos angustiantes, surgimento de um, ou mais, sabotador, entre outros.

Zimerman (1993, p. 102) continua sua explanação dizendo que são múltiplas as razões que levam as pessoas a resistirem, como, por exemplo, medo do surgimento do novo, medo de depressão, medo da regressão, medo da progressão, apego ao ilusório, evitação da vergonha e humilhação, predomínio de uma inveja excessiva, manutenção da ilusão grupal de que “nosso grupo está sempre ótimo”.

Ao observar a resposta do entrevistado “B”, referente à questão da pesquisa que solicitava que descrevessem a primeira dificuldade em dar feedback, pode-se elucidar o comportamento que o grupo, por vezes, apresentou durante seu período de formação:

“Quando percebia que as pessoas não eram autênticas em trazer o que acontecia dentro do grupo, eram mais espontâneas fora do grupo, empobrecendo as reuniões.”

Os vários medos, o apego ao ilusório, a evitação da vergonha e da humilhação ou a inveja seriam fatores que deveriam ser levados em consideração, tanto no âmbito dos encontros (onde por vezes o não dito ou a ausência de feedback ocupou o espaço do grupo) quanto na realização desse trabalho, onde se deparou com as não respostas para a pesquisa?

Qual era o nível de comprometimento do grupo ? Quanto cada membro do grupo importava grupo ? Quanto cada membro do grupo importavase consigo mesmo e com o outro ?

O movimento do grupo, por vezes, foi como uma das descrições de Lewin (1976, p. 58) quando identifica o fenômeno da “constância social”, onde os grupos não sentem e não experimentam nenhum desejo, nenhuma aspiração a evoluir, a mudar. São grupos que se comprazem nas percepções estereotipadas da situação social e, cujas atitudes coletivas e comportamentos de grupos são determinados e condicionados por preconceitos.

Afinal, será mesmo tão difícil dar e receber feedback?

Ao se analisar o resultado da pesquisa, entendeu-se que alguns participantes do grupo deram continuidade a um padrão de comportamento observado ao longo de vários encontros; qual seja o da incongruência, onde a fala não corresponde à prática, onde se percebe uma sensação de discrepância entre o que é prometido e o que é cumprido, mera expressão de seu “contrato psicológico”.

De acordo com França (2006), o contrato psicológico é um fenômeno psicossocial que ocorre sempre que se constroem vínculos, em que entra em jogo a satisfação de necessidade de duas ou mais partes, um acordo não escrito que, implicitamente traz obrigações e direitos que envolvem crenças, percepções e expectativas mútuas.

Teria este contrato psicológico se estabelecido a serviço do medo, da evitação da vergonha e humilhação ou por inveja ? Talvez a hipótese de que “o bebê queira destruir o que lhe traz ameaça” seja um ponto relevante a se dar atenção; ou seja, o grupo teria o desejo de destruir ou sabotar um trabalho que possivelmente iria apontar as causas que o impediram de se expor?

A resposta do entrevistado “A” demonstra um dos comportamentos do grupo: “Boicotes ao funcionamento, cultura e normas do grupo. Eu te poupo, você me poupa”.

Os dados acima demonstram o lado mau do grupo e, como já mencionado, os relacionamentos são permeados por sentimentos bons e maus, pelo que serão apontados agora os acontecimentos que facilitaram o processo de feedback:

O fator confiança/segurança foi citado por 8 participantes, ou seja, 100% dos que responderam à pesquisa apontaram esse fator como essencial para a realização do processo de dar e receber feedback de forma assertiva.

Nesse aspecto entende-se como importante destacar e valorizar os participantes que se comprometeram e responderam à pesquisa. A hipótese é de que os oito integrantes que cumpriram o que haviam prometido sentiam-se seguros, confiaram e estavam dispostos a entender o que realmente aconteceu no grupo durante o período de formação.

Como já mencionado, para Klein (1991), o seio bom é aquele que nutre, satisfaz as necessidades do bebê e lhe proporciona bem-estar e segurança.

A resposta do entrevistado “B” ilustra bem o sentimento de segurança:

“Percebi que só poderia crescer, eu e o grupo, quando pudesse confiar e poder falar com mais clareza o que realmente sentia.”

Esses dados revelam que os membros do grupo tiveram suas necessidades realizadas nos momentos em que entraram em contato com seus sentimentos mais íntimos e difíceis de serem aceitos. Provavelmente, isso somente foi possível graças à confiança depositada nas coordenadoras, que representavam o papel da “mãe” que nutre e oferece segurança, assim como daqueles membros do grupo que souberam agir com empatia.

Em seus estudos, Bléandonu (1993, p. 78) ressalta que Bion menciona a dependência como o primeiro pressuposto básico de um grupo; o que significa que o mesmo alimenta a certeza de estar reunido para que alguém satisfaça suas necessidades e desejos; alguém esse do qual depende de forma incondicional, que tem a função de prover a sua segurança e cuja bondade, poder e sabedoria não se põem em dúvida; sente-se que tudo pode ser realizado, medo e ameaça não existem, visto ser projetado no objeto externo a esperança e satisfação.

Levando em consideração esse ambiente de segurança proporcionado pela “mãe”, Luft (1968, pp. 17 e 18) aponta que grande parte das pessoas com possibilidade de trabalhar em “grupo de laboratório” relata que se sentem tocadas pelo que se passa no grupo e, através disso, aprendem a conceitualizar a respeit

A resposta do entrevistado “G” ilustra esse acontecimento vivido no grupo: “Me senti integrada no grupo e certa de que as coisas faladas poderiam ser ditas considerando o interesse genuíno pelo outro e resolvidas naquele espaço e não levadas para questões pessoais”.

Pode-se entender que o grupo e as coordenadoras fizeram o papel de “mãe” acolhedora e que nutre seus “filhos”, a fim de lhe garantir o desenvolvimento pessoal.

No tocante ao relacionamento grupal, Zimerman (1997, p. 120) elucida que existem vários fatores e elementos dentro de um grupo que podem determinar o crescimento, estagnação ou extinção do mesmo. Presenças simultâneas de fatores disruptivos e coesivos, harmônicos e desarmônicos, elementos conscientes e inconscientes e estes, os inconscientes, de forma manifesta ou subjacente.

Fazendo analogia com uma orquestra, onde o grupo de músicos é regido pelo maestro, eis que todos possuem a mesma partitura e é da execução desta partitura em comum que decorre a manifestação dos instrumentos em maior ou menor intensidade.

Desta orquestra podem-se constituir diversos arranjos com os fatores presentes em cada um dos componentes com tonalidades diferentes. E o que determina se haverá crescimento, estagnação ou extinção, fundamentalmente depende do melhor ou pior aproveitamento da potencialidade dos múltiplos vetores que fazem parte do grupo.

É natural do ser humano o querer saber, criar, brincar, curtir prazeres e lazeres e também filosofar sobre questões como “de onde vim, para onde vou, qual é o meu/nosso papel no contexto grupal, social ou universal em que estou/estamos inseridos”.

 Observando o setting que proporcionou uma estrutura onde foi possível que histórias de vida mal resolvidas fossem reexperimentadas e outras novas fossem propiciadas pelo grupo, têm-se que fatores como coesão, harmonia e integração são fundamentais para o amadurecimento e manifestação dos diversos instrumentos pertencentes ao grupo de formação, objeto de pesquisa e estudo deste trabalho.

Merece destaque a continência, a qual permitiu que os integrantes, sentindo-se seguros e sabendo que o grupo daria conta da situação, dividissem suas angustias e aflições.

Através da identificação, os membros do grupo foram absorvendo as características e a maneira como as coordenadoras encaravam suas angústias, dúvidas, incertezas, enfrentamentos, as formas de se comunicar, se relacionar e de expressar; como elas raciocinavam e pensavam nas experiências que ocorriam na vida interna e externa do grupo.

Um exemplo disso foi quando uma das coordenadoras disse que teve a coragem de pintar suas unhas de vermelho, como uma atitude libertadora para uma questão pessoal. Imediatamente, houve um movimento de identificação no grupo e no encontro seguinte a maioria também pintou suas unhas de vermelho; inclusive os homens, denominando este ato como “Atitude Vermelha.”

A resposta do entrevistado “E” ilustra o mecanismo da identificação:

“Iniciamos um primeiro exercício sociométrico: teria que escolher alguém para dar um feedback positivo. Escolhi uma pessoa do grupo com quem tinha muita afinidade, ficando bem fácil falar sobre os pontos positivos dela”.

O grupo, enquanto verdadeira galeria de espelhos, esteve a serviço de todos nos jogos de identificações projetivas e introjetivas. Por diversas vezes houve a possibilidade de cada um mirar-se e refletir-se no outro, dando-se o direito de voltar a conhecer o que estava esquecido ou oculto de si mesmo. Dessa forma foi possível para muitos a passagem do estado de narcisismo para um estado de socialismo.

E poder-se-ia ir além citando outros fatores como a sociabilização, a comunicação, as intervenções, as mudanças dos papéis, as possibilidades para reparações. Tudo esteve presente e, como numa orquestra, todos se alternaram de acordo com suas necessidades, uns mais, outros menos, nessa fascinante oportunidade que foi proporcionada ao grupo estudado; nessa singela partitura da magnífica sinfonia chamada vida.

Há de se destacar ainda o último suposto básico apontado por o Bion (1975, p. 142): o acasalamento. Bion diz que já há a existência de um líder em todas as suposições básicas, exceto no grupo de acasalamento, visto que o líder é “inexistente”, ou seja, ele é algo do futuro. “Este líder não precisa ser identificado com qualquer indivíduo do grupo; não necessita ser nem mesmo uma pessoa, mas pode identificar-se com uma ideia ou um objeto inanimado”.

Bléandonu (1993, p. 79) faz o desfecho do comportamento de acasalamento de acordo com Bion da seguinte maneira: “O grupo pensa que uma pessoa, ou uma ideia, virá salvá-lo, fará desaparecer todas as dificuldades atuais”.

Poderia esse líder ser o resultado da pesquisa? Será que a pesquisa salvaria o grupo ao revelar os sentimentos negados ou seria ela a grande salvadora do entendimento do funcionamento deste grupo?

 São essas e outras perguntas que instigam o estudo e a busca pela compreensão do comportamento das pessoas, em suas mais diversas formas de interação. Tais características ainda demonstram o quanto somos seres complexos em relação aos nossos sentimentos e esses, uma vez não aceitos, elaborados ou resinificados, não são passíveis de serem elaborados por formação acadêmica alguma.

Considerações finais

Por fim, a pesquisa constatou que, ao se tratar de relacionamento interpessoal e intragrupal, revivemos papéis da infância que necessitam de certos ajustes e somente através dessa “revivência” grupal é possível ressignificar, aceitar e elaborar as lacunas deixadas na tenra infância. Fadiman e Frager (1986, p. 25) destacam que os nossos relacionamentos têm base nos efeitos residuais das primeiras experiências intensas e que, através de reencontros, na adolescência ou vida adulta, é que se torna possível fechar as lacunas através do feedback.

 

Referências

 

BION, W. R., Experiências com grupos: os fundamentos da psicoterapia de grupo. 2. ed. Rio de Janeiro: Imago; São Paulo, Ed. da Universidade de São Paulo, 1975.

BLÉANDONU, G., Wilfred R. Bion: a vida e a obra, 1897-1979. Rio de Janeiro: Imago, 1993.

BRAZELTON, T. B., GRAMER, B. G., As primeiras relações. São Paulo: Martins Fontes, 1992.

FRANÇA, A.C.L., Comportamento organizacional. Rio de Janeiro: Saraiva, 2006.

FADIMAN, J., FRAGER, R., Teorias de personalidade. São Paulo: Harbra, 1986.

HINSHELWOOD, R.D. Identificação Projetiva. In:______. Dicionário do Pensamento Kleiniano. Porto Alegre: Artes Médicas, 1992.

KLEIN, M., Inveja e gratidão e outros trabalhos (1946 – 1963). Rio de Janeiro: Imago,1991.

KLEIN, M., RIVIÈRI, J., Amor, ódio e reparação: as emoções básicas do homem do ponto de vista psicanalítico. São Paulo: Imago, 1975. LUFT, J., Introdução à Dinâmica de Grupo. São Paulo, Martins Fontes, 1968.

MAILHIOT, G. B., Dinâmica e gênese dos grupos. São Paulo: Livraria Duas Cidades Ltda., sem data. MOREIRA, B. L., Dicas de feedback: a ferramenta essencial da liderança. Rio de Janeiro: Qualitymark, 2009.

MOSCOVICI, F., Desenvolvimento interpessoal: treinamento em grupo. Rio de Janeiro: José Olympio, 2012.

TALLAFERRO, A., Curso básico de psicanálise. 2ª Ed. São Paulo: Martins Fontes, 1996.

ZIMERMAN, D. e OSÓRIO, L. C., (orgs). Como Trabalhamos com Grupos. Porto Alegre: Artmed, 1997.

 ZIMERMAN,D. E., Fundamentos Básicos das Grupoterapias. Porto Alegre – Artes Médicas, 1993.

Veja também